Na 37º Sessão Ordinária do ano de 2019 ocorrida na manhã de ontem (12) a Câmara de Vereadores de Itaqui entregou um "Voto de Louvor" por requerimento da Vereadora Cleir Fagundes (MDB) ao aluno Erick Diatel Dornelles da Escola Municipal Getúlio Vargas sob a coordenação da Professora Telma de Paula Reis. Erick tem 12 anos e é aluno do 6º ano da Escola Getúlio, filho de Antonio Teixeira Dornelles e Luisamar Diatel Dornelles e participou da olimpíada junto da Professora Telma Reis na categoria "Memórias Literárias". Ele venceu as duas primeiras etapas em Itaqui, sendo a primeira na Escola e a segunda no município e sagrou-se campeão estadual na terceira fase em Porto Alegre. Erick como vencedor estadual participou da etapa brasileira e chegou a semifinal na cidade de São Paulo-SP conquistando a medalha de bronze entre mais de 175 mil escritos no Brasil. A Vereadora Cleir em seu pronunciamento parabenizou a dupla pelo grande feito e felicitou a família do aluno que estava presente no plenário, pois a redação vencedora, Erick elaborou através de uma entrevista com sua avó, dona Onélia Diatel que relatou um pouco da história da sua família comentou a Vereadora em seu discurso. Cleir também agradeceu a Professora Telma Reis que orienta seus alunos à fazerem sempre o melhor possível para que tenham sucesso quando almejam algo e pela persistência dela em acreditar nos seus alunos. Finalizou dizendo que " feliz é aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina". A Professora Telma agradeceu a honraria recebida, também a direção da escola que proporcionou o trabalho a eles e disse que todo esforço que se teve desde Abril deste ano, os frutos estão sendo colhidos agora e que teve muita troca de aprendizado e esta muito feliz pelo reconhecimento do seu trabalho e espera que isso seja apenas uma semente que estão plantando no coração das pessoas e também parabenizou dona Omelia pela sua linda vida. A mãe do Erick, Sra. Luisamar também se manifestou dizendo que sente que a missão foi cumprida pelo aluno e pela Professora Telma, pois além de ganharem o concurso a história de vida contada na redação era muito bonita e eles prometeram espalhar pelos quatro cantos comentou ela. Segue abaixo a redação do aluno Erick vencedora da olimpíada na categoria "Memórias Literárias". Kondradt: “onde ‘tu vai’, moreninha...?” De um lado, Argentina, do outro, Brasil. E eu estava lá, na imensidão, cercada pelo Rio Uruguai. Tinha 15 anos e estava pescando na Ilha da Cruz, onde morava. Havia o de comer para todos que enfrentassem o gigante de águas profundas. As casas, construídas com madeira, pequenas, mas caprichosas. Árvores frondosas refletiam fantasmas na água; frutas poucas, mas pássaros sim, eram diversos. Meu pai sabia se iria chover conforme o pássaro que cantava ou se estranho vinha em nossa direção. Os ouvidos de meu pai eram sábios. Ensinara-me que a ilha trazia sossego e perigos ao mesmo tempo. Ouvindo os ruídos do final de um dia, à beira da “Providência”, chalana de meu pai, vi que se aproximava um barco a remo. Uma embarcação robusta, caberiam muitos “chibos” do país dos “hermanos”. Estava escuro, mas percebi, pela sombra no espelho d’água, que havia apenas um tripulante; letras brancas escritas “Giboiazinha”, estampavam o casco como serpente. Dos sons que se achegavam de mansinho, minha vida se esboçou. Até a adolescência, vivi a calmaria e serenidade qual o barco que interrompia a espera pela surpresa no anzol. Acercava-se bem devagar; eu ouvia o som macio da remada persistente, até que chegou perto e pude ver o rosto barbudo de olhos cintilantes, mirando-me. Não senti medo, nem curiosidade, devia ser contrabando. Naquele tempo, os chibeiros tinham a noite como aliada para trabalhar. Em Itaqui, há a travessia legal para Alvear pela balsa, mas sempre houve os chibeiros da noite que se arriscavam transportando maçãs, alfajores e a proibida carne. Adolescente sonhadora, imaginava a vida do outro lado do rio, enquanto entretinha-me com aquele fio de nylon abraçado em meus dedos. Mal sabia que ali mesmo eu conheceria alguém que viveu do outro lado do mundo e, por infortúnio, veio parar na minha frente. “Onde ‘tu vai’ moreninha, que um dia tu vai ser minha...”? Fiquei furiosa. O cenário repetia-se, ele passava dizendo aquela frase abusada que, não sabia o porquê, envaidecia-me. Um dia, apeou do barco e foi ter com meu pai no rancho. Eu, já em casa, pude vê-lo claramente. A barba estava aparada e o cabelo mais ralo que outrora. Os olhos azuis como o céu. Fitei-o de relance para não parecer guria à-toa, e ele seguia meus passos pelo canto do olho. Ouvi-o contando que veio da Rússia; voltei para a sala. Apoiada na parede de tábua, meu pai não se opôs, só pediu para servir o mate. A água estava morna, levei a cambona para o fogão à lenha; o visitante chamava-se Anacleto. Ele contou que viera na época da imigração. Durante a Segunda Guerra Mundial, 1939, iniciava a chamada terceira onda de imigrantes russos. O pai de Anacleto decidiu aventurar-se em uma nau vinda para o Brasil, buscando salvar os que restaram dos doze filhos. Anacleto e seu irmão foram únicos sobreviventes. A lepra e a fome matavam severamente naquele país. Muitos, o mar segurou em seus punhos. Enquanto falava, sua voz diminuía. Uma dor que não cabia num dia de coração faceiro. Entregou-me a cuia, erguendo-se e dando o até logo. No meu tempo, namorar era assim: olhares e sorrisos, até o pai dar a permissão ao compromisso. Eu, agora, já o admirava. A mocidade nos fez apurar o casamento, que foi em Itaqui, onde havia cartório e para onde viemos morar após a chegada da primeira filha. Vivíamos do corte da lenha e do carvão que “puxávamos” em nossas chalanas. A pesca, diária; e eu não me “apixava” ao trabalho e para ajudá-lo. O amor nos envolvia, era maior que o país que o expulsara. Aqui, os 44 anos de “providência divina” foram de luta e gratidão. Anacleto, também no ofício de carpinteiro, não dava as costas a serviço algum que surgisse. Com mãos hábeis, tinha a confiança do povo esculpida nas rodas de madeira em carros e carretas. Eu batia roupas pra fora e ajudava nos ganhos para criar os oito filhos que tivemos. Ele se foi...há vinte e quatro anos. Mas eu continuo aqui, no nosso Itaqui, ouvindo, agora, as vozes de netos, bisnetos e dois tataranetos; como uma adolescente, imaginando o que será que tu, amor russo, fazes do outro lado. Volta e meia, ainda te ouço, Kondradt: “onde ‘tu vai’ moreninha, que um dia ‘tu vai’ ser minha...”?